segunda-feira, 19 de junho de 2017

Outro Brasil

por José Pio Martins*

"Eu não quero morar em outro país. Eu quero morar em outro Brasil." Ouvi essa expressão em palestra do consultor Marcelo Karam, e ela me provocou várias reflexões. A recessão, a corrupção, o desemprego e a violência social são as causas mais citadas por pessoas que manifestam o desejo de ir embora do Brasil. O desencanto com o país é compreensível, pois nossas mazelas são graves e formam um quadro desolador que faz muitos perderem a esperança de melhorias no curto e médio prazo.

Tenho uma filha que atualmente mora e trabalha em Londres, depois de ter residido na Itália e na Alemanha, e isso me faz acompanhar de perto a Europa, principalmente a Inglaterra. Emigrar para Londres, cidade glamourosa e centro importante da história mundial, e lá viver é o sonho dourado de muitos. Mas, quando se tornam reais, os sonhos revelam seus espinhos. A Inglaterra, apesar das vantagens, apresenta vários problemas para o imigrante.
O país aderiu à União Europeia (28 países), porém, com mais oito países, não adotou o euro como moeda comum. No ano passado, o Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales) decidiu se retirar da União Europeia, o que implicará mudanças na política de imigração na região. Três milhões de cidadãos da União Europeia vivem no Reino Unido e 1,1 milhão de cidadãos do Reino Unido vivem nos demais países da Europa. Os ingleses têm certa restrição aos imigrantes, aos quais gostam de reservar os empregos de menor remuneração.

A vida do imigrante na Inglaterra não é fácil. A maioria mora em residências pequenas e frequentemente é lembrada de que ele é imigrante, não cidadão nacional. Nas pequenas cidades, a hostilidade no mercado de trabalho é maior, e foi o interior que deu a maioria dos votos para aprovar o Brexit (a retirada britânica da União Europeia). O país é organizado, a violência urbana é quase nula, o povo é educado, as coisas funcionam e há muito que admirar na Inglaterra. Mas o imigrante é sempre um estrangeiro e, mais adiante, muitos podem ser instados a deixar o país.

O exemplo da Inglaterra mostra que ser imigrante em qualquer país nos tempos atuais não é exatamente uma coisa fácil. Uma coisa é o glamour, outra é a realidade. Para a maioria dos 207,2 milhões de habitantes do Brasil, a hipótese de ir embora do país não se coloca. A expressão "eu não quero viver em outro país; eu quero viver em outro Brasil" é apropriada e um bom motivo para sabermos que cabe a nós, sociedade e governo, construir outro Brasil, menos pobre, menos corrupto, menos violento e com melhores hábitos; um país onde morar seja seguro e onde se possa ter alegria de viver.

Muitos que manifestam o desejo de ir embora talvez tenham desistido do Brasil e não acreditam que verão um país melhor. A questão é que, apesar dos problemas, a maioria não irá embora, e o melhor é fazermos nossa parte e contribuir para melhorar a nação, superar a pobreza e reduzir o elevado grau de violência contra a vida. Aceitar passivamente a pobreza, o caos e a marca de 60 mil pessoas mortas por assassinato a cada ano não é razoável.

No plano pessoal, as crises e as derrotas produzem lições e nos ajudam a mudar para melhor. Resta saber se o Brasil, como sociedade, aprenderá algo com a tríplice crise atual (a econômica, a política e a moral) e será capaz de melhorar sua economia e as condições sociais. Só o tempo dirá.

*Economista e reitor da Universidade Positivo.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Opinião

"Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. Não sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contato com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável."

Mia Couto, escritor, poeta, jornalista e biólogo.

Empreendedores do século XXI

Numa visão mais simplista, podemos entender como empreendedor aquele que inicia algo novo, que vê o que ninguém vê aquele que realiza antes, aquele que sai da área do sonho, do desejo, e parte para a ação. Considera irresistíveis os novos empreendimentos e propõe sempre ideias criativas, seguidas de ação. A autoavaliação, a autocrítica e o controle do comportamento são características do empreendedor que busca o autodesenvolvimento. Não basta tirar um projeto do papel para caracterizar um negócio. Para isso é necessário um fator diferente: a inovação.

Segundo a coach e empreendedora Herica Oliveira, "o contexto econômico e social favorece esse perfil profissional, pois o empreendedor é um empresário com um perfil distinto, atento às novas tendências, preocupado com soluções inéditas e que busca explorar campos de atuação carentes de atendimento e com excesso de demanda", comenta. Aqueles que possuem e desenvolvem esse tipo de característica conseguem se destacar dos potenciais concorrentes.
 
Atualmente, há aproximadamente 1,5 milhão de microempreendedores individuais no Brasil. Em 2014, conforme publicou o portal da revista EXAME, a taxa de empreendedorismo no mesmo índice foi de 34,5%. Naquele ano, o Brasil esteve oito pontos à frente da China. Portanto, Herica ressalta "para que esse cenário de liderança se amplie ainda mais, três fatores que existem em países desenvolvidos precisam ser otimizados no país: formação educacional, auxílio governamental e oportunidade de investimento", explica.

De acordo com pesquisas, ter seu próprio negócio só perde como maior sonho do brasileiro para as intenções de ter uma casa própria e de viajar pelo país. "Momentos como o atual traz incerteza para todos. Com a economia em recessão, o aumento do desemprego e a diminuição do poder aquisitivo da população balança todos os setores da economia. Porém, geralmente, os principais prejudicados são os setores mais tradicionais e as empresas maiores. Os empreendedores e novas empresas têm tudo a ganhar. Empreender faz parte do sangue brasileiro", finaliza a especialista.
 
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