quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Desenvolvendo a maestria: o avanço está no desconforto

por Paulo Ribeiro*
 
Poucas coisas fascinam mais um ser humano do que assistir a um mestre em ação. Não importa a área: observar e reconhecer a maestria em outro ser humano nos impacta de algum modo.

Falo maestria não no sentido de "ser o melhor de todos naquilo", mas no sentido de se ter uma intimidade tão grande com aquela arte, que faz com que o artista entenda as possíveis nuances e torne-se capaz de expandir a performance humana na área. Isso acontece nas mais variadas áreas, desde grandes músicos, esportistas, artistas, gênios, etc. Todos diferentes, porém, mestres.

Porém, ser mestre em algo não tem ligação direta com talento ou inteligência – e sim com esforço e prática. Se você quer alcançar esse tipo de domínio sobre algo é preciso uma dedicação diferenciada, que poderá lhe garantir a maestria no assunto. Assim como músicos se dedicam para dominar um instrumento, você pode usar esse conhecimento para aprender bem uma disciplina da faculdade, por exemplo.

Já foi comprovado que não existe uma relação clara entre QI e aptidão para desenvolver tarefas ao nível de mestre, assim como é observado que a aptidão para uma habilidade não necessariamente implica uma inteligência geral, para todas habilidades.

Porém, também foram encontradas características em comum naqueles que desenvolvem a maestria: o sucesso - nesse caso ligado diretamente à qualidade e maestria da performance - estava consistentemente correlacionado com o que os cientistas chamaram de prática deliberada.

Essa tal prática deliberada é um método que melhora o desempenho, é exigente e requer presença constante de feedback, - e não é medida de acordo com o tempo de prática ou experiência de campo, mas sim com o volume de esforço investido em certa habilidade ou conhecimento.

A prática deliberada é acima de tudo um esforço de foco e concentração. É isso o que significa deliberada, ao invés de simplesmente resolver exercícios no modo automático. Por exemplo, uma pessoa que deseja melhorar seu nível de física pode optar por duas escolhas: resolver exercícios indiscriminadamente ou focar em seus pontos fracos. De nada adianta você gastar meses resolvendo questões que já estão confortáveis/fáceis para você. Isso não avança sua habilidade geral. O avanço está no desconforto. É claro que esse trabalho de manter-se na prática deliberada exige mais da pessoa: pesquisas mostram que ficar de quatro a cinco horas por dia se dedicando a esse método é o limite superior da prática deliberada.

Uma dica, para o ambiente de estudo, é fazer exercícios que tenham gabarito – afinal, performance sem feedback é inútil. Prefira resolver poucas questões, mas que tenham o gabarito, do que muitas indiscriminadamente. Sem o feedback, o desempenho não melhora. ​

*Escritor, palestrante, consultor e fundador do Aprendizado Acelerado.
 

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